
Um parque de energia solar no Ceará, uma mineradora no Amazonas e duas fábricas na Bahia têm algo em comum: todos os investimentos vêm de empresas chinesas. Em 2024, o Brasil recebeu US$ 4,18 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) em aportes executados por multinacionais do país asiático, segundo relatório do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China). Foram 39 projetos, o maior número desde o início do levantamento, em 2010.
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O estudo considera apenas investimentos produtivos em andamento, deixando de fora anúncios ou iniciativas em estudo, explica Tulio Cariello, diretor de pesquisa do CEBC. Na comparação com 2023, o volume de recursos cresceu 113% e alcançou 14 estados brasileiros.
“Começamos a ver uma diversificação nas regiões que recebem empresas da China. Ainda há concentração no Sudeste, mas já temos exemplos em áreas menos óbvias”, observa Cariello. Paraná, Amazonas, Rio de Janeiro, Tocantins e Maranhão, que não haviam recebido aportes em 2023, entraram na lista. São Paulo lidera com 15 projetos, seguido de Minas Gerais (6), Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul (4 cada).
Entre os setores, a eletricidade concentrou a maior fatia dos investimentos: US$ 1,43 bilhão (34% do total). Na sequência aparecem petróleo (US$ 1 bilhão, 25%) e indústria automotiva (15%), impulsionada pela chegada das montadoras BYD, na Bahia, e GWM, em São Paulo. Ambas iniciaram as operações com produtos importados, adquiriram fábricas de montadoras antigas e adaptaram as estruturas para produzir carros eletrificados.
Com produção local e incentivos fiscais, essas empresas buscam enfrentar a forte concorrência de outras marcas chinesas que desembarcaram recentemente no país. Hoje, já são pelo menos oito montadoras chinesas em operação, número que deve subir para 11 até o fim de 2025, com a chegada de Leapmotor e MG Wuling.
Graças ao avanço dos aportes em energia e indústria, o Brasil se tornou o terceiro maior destino de investimentos chineses em 2024, atrás apenas do Reino Unido e da Hungria, segundo dados combinados do CEBC e do China Global Investment Tracker (CGIT), iniciativa do American Enterprise Institute.
Apesar do crescimento em quantidade de projetos, os valores totais investidos já foram mais robustos. O auge ocorreu na década de 2010, com grandes operações em energia lideradas por estatais como State Grid e China Three Gorges. Só em 2010, os aportes somaram US$ 13 bilhões (R$ 70 bilhões).