
As férias de julho estão chegando ao fim, mas, para alguns, elas sequer começaram. Professores temporários da rede municipal de Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza, não tiveram direito ao recesso escolar e trabalharam durante todo o mês presencialmente em suas unidades. A confirmação de que não teriam o período de descanso veio apenas dois dias após o início oficial das férias, pegando muitos de surpresa.
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Segundo os relatos, o argumento utilizado pela gestão municipal foi de que, por não terem completado um ano de contrato — muitos iniciaram em março —, os professores contratados estariam fora do direito legal ao recesso. A orientação, no entanto, gerou revolta entre os educadores, que afirmam que tal cláusula não existe nos contratos assinados no início do ano e que a prática fere um histórico de concessão de férias a temporários, mantido inclusive desde o período da pandemia.
“Não tem nada disso no nosso contrato. Esse foi um corte feito de última hora, sem aviso prévio, e com certeza teve aval direto do prefeito. A secretária não tomaria essa decisão sozinha”, afirma um dos professores, que preferiu não se identificar por medo de retaliações. Ele conta que muitos colegas têm medo de perder o contrato e, por isso, evitam se manifestar publicamente.
Além da suspensão das férias, a Secretaria anunciou a criação de um programa de aulas de reforço para julho, período tradicionalmente reservado para descanso dos educadores. Com isso, os professores temporários e comissionados seguiram em sala de aula, atendendo alunos com baixo rendimento escolar. Como “compensação”, a gestão municipal teria liberado apenas cinco dias úteis de folga, a serem organizados internamente pelas escolas.
“É desumano. Tem gente que estava contando com esse período para se recuperar de problemas de saúde ou cuidar de questões pessoais. Em vez disso, seremos obrigados a dar aula para estudantes que já têm dificuldades durante o ano letivo normal. O que vamos conseguir resolver em um mês, sem planejamento e sem estrutura?”, questiona o educador.
De acordo com a denúncia, a decisão afetou não apenas professores, mas também auxiliares de sala, pessoal da limpeza e outros profissionais contratados temporariamente. “Foi um golpe no planejamento de todos. E a justificativa de que não temos um ano de casa não se sustenta, porque até dezembro os nossos contratos estão ativos. É um retrocesso.”
O educador também afirmou ter formalizado uma denúncia anônima ao Ministério Público do Ceará, mas diz que ainda não recebeu retorno sobre a tramitação do processo.
Outro professor da rede municipal de Itaitinga também se manifestou, sob condição de anonimato, em entrevista exclusiva ao Poder News, para relatar a frustração diante da suspensão do recesso escolar de julho. Segundo ele, a notícia foi recebida de forma inesperada, quando os docentes já tinham feito seus planejamentos pessoais para o período de descanso.
“Eu trabalho na escola desde o começo do ano, lá por fevereiro. A gente ficou sabendo dessa ‘ótima notícia’, por assim dizer, na última semana de junho, quando todo mundo já tinha se programado para as férias. Aí veio essa informação de que não teríamos direito ao recesso”, contou.
De acordo com o relato, a decisão foi comunicada após uma reunião entre diretores e coordenadores, e confirmada por meio de uma circular assinada pelo próprio prefeito. “Foi divulgado por um homem chamado Jardel, tem a assinatura do prefeito nesse documento. Todo mundo foi pego de surpresa. Mas, como somos contratados temporariamente, temos medo de falar qualquer coisa, porque pode custar nosso afastamento”, lamentou.
“Se o aluno não aprendeu em seis meses, vai aprender em 20 dias? Isso é uma ideia sem sentido. Todo mundo já está exausto — professor e aluno. E ainda dizem que a gente vai ter só os últimos dias de julho como ‘recesso’. O mês inteiro foi de trabalho. A gente só pensa em como vai ser a volta em agosto”, finalizou.