
A inauguração de um terminal de cargas frias no Porto do Pecém, na região metropolitana de Fortaleza, não poderia ter ocorrido em momento mais oportuno para o Ceará. Com as exportações de pescados e outros produtos refrigerados estagnadas devido à sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos, a nova estrutura oferece uma alternativa estratégica: armazenar os produtos enquanto o cenário internacional se estabiliza ou novos mercados são abertos.
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“É uma ferramenta para dar mais fôlego aos exportadores do Ceará. Com a instabilidade atual, eles ganham tempo para redirecionar os produtos para o mercado interno ou aguardar uma resolução diplomática”, afirma Thiago Abreu, diretor-geral da Fracht Log, operadora do novo terminal refrigerado. “Já estamos armazenando pescados que não podem ser enviados aos EUA.”
A unidade, pertencente à multinacional suíça Fracht Group, foi inaugurada no mês passado e tem otimizado o uso de contêineres, agrupando diferentes produtos refrigerados para reduzir custos e maximizar a capacidade de armazenamento. A ideia surgiu ainda em 2021, quando os efeitos da crise nos fretes internacionais evidenciaram a fragilidade da logística global. Agora, o desafio são as novas barreiras tarifárias.
O Ceará é, proporcionalmente, o estado mais afetado pelas medidas adotadas pelo ex-presidente Donald Trump. No início de setembro, o governador Elmano de Freitas (PT) decretou situação de emergência econômica no estado devido aos impactos das tarifas. Até a imposição das barreiras, os EUA eram o destino de 52% das exportações cearenses — um crescimento de 7% em relação a 2024. Com a isenção anunciada posteriormente, apenas 1,38% dos produtos exportados foram beneficiados. Em agosto, as vendas para os EUA caíram 46,3% em relação a julho.
As tarifas atingem diretamente cadeias produtivas que sustentam milhares de empregos em municípios que exportam água de coco, castanha, frutas, mel e pescados. Somente os pescados, como lagosta, atum e peixes vermelhos — que têm os EUA como único destino — movimentam cerca de 60 mil trabalhadores no estado, segundo a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). São 18 mil pescadores diretamente envolvidos, além de três vezes esse número em empregos indiretos na cadeia produtiva.