
Crianças expostas a temperaturas médias acima de 30 °C apresentam menor probabilidade de atingir marcos essenciais de alfabetização e raciocínio matemático. É o que revela uma pesquisa liderada pela Universidade de Nova York (NYU), publicada no Journal of Child Psychology and Psychiatry. O estudo, que analisou dados de mais de 19 mil crianças de 3 e 4 anos em seis países, reforça que os impactos das mudanças climáticas transcendem o meio ambiente, afetando diretamente o capital humano.
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Principais Achados
- Déficit de Aprendizagem: Crianças em regiões com calor sustentado acima de 30 °C tiveram entre 5% e 6,7% menos chance de alcançar marcos básicos de leitura e lógica.
- Desigualdade Térmica: Os efeitos foram mais severos em famílias economicamente vulneráveis, com acesso limitado a água potável e saneamento, e em áreas urbanas densas (ilhas de calor).
- Abrangência: Os dados foram coletados em Gâmbia, Geórgia, Madagascar, Malawi, Palestina e Serra Leoa.
Metodologia da Pesquisa
O estudo utilizou o Índice de Desenvolvimento da Primeira Infância (ECDI), que monitora quatro domínios críticos:
- Linguagem e Numeramento: Habilidades de leitura e contagem.
- Socioemocional: Interação e regulação do comportamento.
- Aprendizagem: Curiosidade e foco.
- Desenvolvimento Físico: Saúde geral e coordenação.
Os pesquisadores cruzaram esses indicadores com dados das Pesquisas MICS (2017–2020), que fornecem um panorama global sobre saúde, nutrição e ambiente domiciliar.
O Impacto Biológico: Por que o calor afeta a mente?
O hipotálamo funciona como o “termostato” do corpo humano. Em condições de calor intenso e contínuo, ocorrem prejuízos sistêmicos:
- Desidratação e Fluxo Sanguíneo: A perda excessiva de líquidos compromete a homeostase, prejudicando o transporte de nutrientes para o cérebro.
- Atividade Neuronal: O superaquecimento interfere na sinapse dos neurônios, reduzindo a capacidade de atenção, a retenção de memória e a velocidade de processamento.
- Vulnerabilidade Infantil: Crianças pequenas possuem sistemas de termorregulação ainda imaturos e muitas vezes não conseguem verbalizar o desconforto térmico, o que retarda a intervenção dos cuidadores.
Alerta para Políticas Públicas
Segundo o autor principal do estudo, Jorge Cuartas, os dados são um chamado para ações urgentes que protejam a infância em um planeta em aquecimento. Especialistas recomendam que governos e famílias priorizem:
- Ambientes de aprendizado e sono com climatização ou ventilação adequada.
- Acesso facilitado à hidratação em escolas e parques.
- Planejamento urbano com arborização para reduzir a temperatura em áreas residenciais.

